Flor é a avó materna de Isabela, já vivia doente e praticamente sedada há algum tempo, alternava momentos de consciência e inconsciência (Idas e vindas). Resolveu partir poucos dias após a partida de Isabela.
IDAS
E VINDAS
Em suas idas e
vindas, aquela paisagem já era um tanto conhecida para Flor, ela passeava pelos
campos, alguém a acompanhava e de vez em quando perguntava se ela gostaria de
ficar, mas ela normalmente preferia voltar.
O corpo já não respondia aos seus desejos, a dificuldade para se locomover, ouvir e entender as coisas em sua volta era cada vez maior, por isso seus passeios eram cada vez mais frequentes e os convites para ficar também se repetiam:
— Você já esta pronta para ficar, seu
corpo já está cansado e pedindo repouso.
Ela olhava e via que era verdade, voltando
não podia mais fazer quase nada, mas via seus filhos, netos e parentes que a
visitavam e não queria abandoná-los.
Os passeios se tornavam mais longos e
ela conhecia novos lugares todos bonitos e lá ela estava normal, andava e
falava sem dificuldades. Um dia avistou um campo bem distante e quis caminhar
até ele, mas seu acompanhante avisou:
— Você não poderá ir até lá, pois de lá
não se pode mais voltar, você só poderá ir, se quiser ficar.
Mais uma vez ela voltou, mas gostou tanto
daquele lugar, que fez dele o local favorito para seus passeios, cada dia se
aproximava mais daquele campo verde, do outro lado do pequeno vale, mas já
sabia que não podia atravessá-lo.
Um dia, porém viu algo diferente, jamais
havia visto pessoas naquele campo. Naquele dia viu alguém andando, parecia
perdida observava as coisas: as árvores, as flores, mas não se detinha em nada,
como que não encontrando o que procurasse. Perguntou ao seu acompanhante:
— Quem é aquela
menina? Nunca vi ninguém ali!
Seu acompanhante entregou-lhe algo
semelhante a um binóculo e ela pôde ver com mais clareza, então sentiu um forte
tremor e começou a chorar:
— O que ela está fazendo lá? Por que
parece perdida?
— É que ela veio um pouco antes da hora,
não está entendendo bem o que aconteceu.
— Eu quero ir até lá.
— Já conhece bem as condições.
Suas pernas tremiam, seu coração pulsava
intensamente, o vento zumbia forte em seus ouvidos, flashes de sua vida
passavam vertiginosamente como um turbilhão de luzes, cores e sons. Envolvia-a
um caleidoscópio tunelado, predominantemente de luz prateada. Seus olhos
lacrimejavam enquanto ela galgava, decidida, o terreno irregular até o outro
lado do vale. Chegando arfante ao lugar onde avistara a menina, parou, olhou
para traz e percebeu a magnitude de sua atitude e suspirou:
— Bem! Agora está feito! - E começou a
procurar a e a chamar pela netinha.
— Belinha! Onde você está?
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