Além dos limites da carne na obra narrativa e ensaística de Juvenil Tomás
Fonte: SMC
Por Alexandra Vieira de Almeida
Doutora em Literatura Comparada
Juvenil Tomás, um autor que expõe a perenidade da tradição espiritual mais profunda, escapando à religiosidade em forma de estátua que a construção dos séculos tem introduzido de forma ditatorial na humanidade. Seus livros: um chamado para a liberdade e para a promessa de um além-carne, um além-limite que a terra impõe.
Os diamantes azuis, uma série estruturada em vários volumes, de forma narrativa, têm seu tom próprio, mas que seguem um fio condutor – o despertar da consciência diamantina, tão perdida nos tempos atuais, petrificados pela pedra bruta, ainda não lapidada pelo viés da originalidade e poeticidade do plano espiritual; há um apagamento do azul que se desbota em tons grosseiros, ferruginosos. Com este título tão belo para esta série, o escritor está sintonizado com a simbologia mais suave e celeste que encontramos nos importantes dicionários de símbolos. No Dicionário de símbolos, dos geniais Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, o diamante tem um significado especial: “A mineralogia tradicional da Índia diz que ele nasce da terra sob a forma de um embrião, de que o cristal constituiria um estado de maturação intermediário. O diamante está maduro, o cristal está verde. O diamante é, mesmo, o auge da maturidade”. Se na alquimia hindu, para estes dois simbologistas, o diamante se relaciona à imortalidade, Juvenil soube bem referendar a escolha de tal título para falar da espiritualidade, seu âmbito transcendente a partir de suas personagens. O azul não poderia ser mais do que apropriado, pois para estes mesmos dicionaristas dos símbolos mais lindos: “O azul é a mais profunda das cores...”, “O azul é a mais imaterial das cores...” e “...o azul não é deste mundo...” Resta a pergunta, o corte do diamante e a profundidade do azul não eliminariam as sombras deste mundo? As personagens “diamantes azuis” cortam, pois este é o poder de tal pedra imaterial e corta com a profundidade do azul que tão bem enfatiza este corte.
Os diamantes azuis se referem aos seres etéreos após a morte, seres angélicos por excelência, poderíamos dizer, metaforicamente, que cumprem uma importante missão: auxiliar os habitantes da Terra e de outros pontos do universo. Eles se reúnem desde o primeiro número da série e quase sempre se encontram ao longo dos vários fascículos dessa impressionante e instigante história. Como o autor mesmo salienta, os episódios narrados são independentes. Esta independência não seria um questionamento da própria incoerência da materialidade que requer uma separação entre as formas físicas? Aqui não estaria a ironia do narrador em mostrar que a partir de sua narrativa, estas partes separadas adquiririam uma unidade especial, própria ao universo espiritual, já que estas partes, ou seja, corpos em sua vida terrena, reencontram-se numa mesma família cósmica quando em sua vida pós-morte? Neste sentido, seu livro ganha uma rica construção metapoética, pois no tecido do texto literário os fragmentos só adquirem vida quando se destinam a formar um todo coeso e precioso: a joia desejada do escritor maduro e lapidado com esmero. Na relação entre espiritualidade e estética, a mensagem do autor é dizer que no plano transcendental se recolhe a própria seiva do poético. Esta nova dimensão que ultrapassa o limite do corpo é o espírito do texto que adquire vida com personagens lapidados pela lei da evolução, sua face mais sutil, o corpo que se quer espelho do espírito, a escrita que é corpo espiritual. As personagens desta cativante história inicialmente agem de forma individual, mas depois coletivamente afirmando o que Plotino já tinha vislumbrado sobre o Mundo Inteligível. No livro Tratados das Enéadas, deste importante filósofo, temos no capítulo sobre a essência das almas o seguinte: “No Mundo Inteligível, toda inteligência constitui uma unidade, não é algo separado nem dividido, e em tal mundo de unidade todas as almas estão unidas sem distanciamento espacial, num mundo que é eternidade”.
Assim, fica a pergunta para o leitor de Juvenil Tomás: Por que não trazer este Mundo Inteligível para a esfera do tempo terreno, tão fragmentado e dividido, em que os seres se separam, se distanciam? Esta atração é o que vai ser teorizada nos seus livros ensaísticos, saindo do viés narrativo, a obra A lei universal da atração, que juntamente com Somos todos magos, formam a coleção “Despertar”. A lei universal da atração contradiz uma ideia do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que na obra original e muito bem fundamentada Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos disse: “A misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos, é o que este livro busca esclarecer, registrar e apreender”. O escritor
Juvenil Tomás procura estabelecer o liame, a argamassa que una os seres fragmentados a partir da lei espiritual da atração, trazendo a harmonia necessária para que todos saiam do sofrimento, pois esta não era a máxima tão prezada por Buda, a busca da felicidade? Para Juvenil, este livro traz o segredo para realizarmos todos os objetivos que almejamos alcançar, mas, positivamente, é claro.
Juvenil Tomás procura estabelecer o liame, a argamassa que una os seres fragmentados a partir da lei espiritual da atração, trazendo a harmonia necessária para que todos saiam do sofrimento, pois esta não era a máxima tão prezada por Buda, a busca da felicidade? Para Juvenil, este livro traz o segredo para realizarmos todos os objetivos que almejamos alcançar, mas, positivamente, é claro.
O livro Somos todos magos dá continuidade a esta ideia, ensinando a todos nós a adquirirmos plena consciência do que somos, num processo dinâmico de autoconhecimento. O autor neste livro mesmo afirma que “o ser humano não é uma pequena bola de carne e osso ambulante separado do ambiente que o cerca”. Todos somos também partes espirituais circulando pelos anéis do mundo em escala evolutiva, pois somos “cocriadores” deste livro eterno que é o universo. Criar a realidade à nossa volta é o papel do mago interno, embora muitos não sejam conscientes disso. Nas palavras de Eckhart Tolle, na sua obra esclarecedora O despertar de uma nova consciência: “Qual a relação entre consciência e pensamento? Consciência é o espaço em que os pensamentos existem quando esse espaço já se tornou consciente de si mesmo.” Nesta obra, o papel fundamental do ser humano é adquirir plena consciência de si, observando atentamente seus pensamentos para não se deixar levar pela negatividade do momento. Os livros de Juvenil Tomás foram editados por outras editoras e alguns foram reeditados pela editora Chiado. A série não para e se movimenta e se expande como no caminho evolutivo da humanidade. Ainda novos volumes virão, trazendo muitas surpresas para os leitores ávidos pela iluminação de suas consciências.
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